Camilo Castelo Branco, nasceu em Lisboa no dia 16 de Março de 1825 e decidiu deixar de viver em 1 de Junho de 1890.
Escritor multifacetado, foi romancista, dramaturgo, crítico, cronista, poeta, historiador e tradutor.
Camilo teve uma vida atribulada, cujos acontecimentos não cabem nesta singela homenagem.
Durante quarenta anos escreveu quase trezentas obras literárias. Viveu unicamente do seu trabalho como escritor.
Estudou com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha, preparando-se para entrar na Universidade. Frequentou o primeiro ano do curso de Medicina no Porto.
Colaborou, como jornalista, nos jornais “O Nacional”,“Periódico dos Pobres” e no “Jornal do Povo”. Entretanto escreveu o drama “Agostinho de Ceuta”.
No Porto, fez parte do grupo “Leões” do Café Guichard. Publicou o folheto “Maria não me mates que sou tua mãe”.
O seu primeiro romance “Anátema”, foi escrito em Lisboa.
Frequentou durante pouco tempo o Seminário do Porto.
Foi o fundador dos jornais religiosos “O Cristianismo” e “A Cruz”, director literário do jornal “A Verdade” e da “Gazeta Literária” e o criador do jornal “O Mundo Elegante”.
Em 27 de Junho de 1855 o Rei D. Luís de Portugal, concedeu-lhe o título de 1º Visconde de Correia Botelho.
Camilo Castelo Branco deixou um legado enorme de comédias, folhetins, poesias, prefácios, ensaios, traduções e cartas.
As adversidades da sua vida provocaram-lhe desânimo e tristeza, considerando que a desgraça estava escrita no seu destino, ao qual não podia fugir. A cegueira agravou esse sentimento.
No entanto, Camilo Castelo Branco foi um dos escritores mais relevantes da literatura portuguesa do século XIX.
Da sua vasta bibliografia, destacam-se algumas obras, tais como: “Amor de Perdição”, um enorme êxito editorial, “Os Pundonores Desagravados”, “A Murraça”, “O Marquês de Torres Novas”, “Mistérios de Lisboa”, “Onde está a Felicidade?”, “Carlota Ângela”, “A Queda de um Anjo”, “O Judeu”, “A Doida de Candal”, “O Retrato de Ricardina”, “Eusébio Macário”, etc.
Em 1991, foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e a Associação Portuguesa de Escritores destinado a galardoar anualmente uma obra em língua portuguesa. O prémio designa-se “Grande Prémio de Conto Camilo castelo Branco”.
A seguir algumas reflexões do escritor:
– “A maldade é congénere do homem.”
– “As acções de cada pessoa são boas ou más consoante a maneira como as outras as comentam.”
– “A amante que chora o amante que teve, na presença do amante que se lhe oferece, quer persuadir o segundo que é arrastada ao crime pela ingratidão do primeiro.”
– “Em coisas insignificantes é que um verdadeiro amigo se avalia.”
– “Amigo é uma palavra profanada pelo uso e barateada a cada hora, como a palavra de honra, que por aí anda desvirtualizando a honra.”
– “A paciência é a riqueza dos infelizes.”
– “Há uma coisa mais aviltadora do que o desprezo: é o esquecimento.”
– “A felicidade quer-se recatada para não suscitar invejas.”
– “Antigamente os animais falavam, hoje, escrevem!”
Nesta homenagem na data do nascimento de Camilo Castelo Branco, fiquemos com um excerto do seu último romance “A Brasileira de Prazins”:
– “Quando, à meia-noite, o Alma negra entrava em casa pela porta do quintal, encontrou a mulher ainda de joelhos diante da estampa do Bom Jesus do Monte. Ao lado dela estavam duas filhas a rezar também, a tiritar, embrulhadas numa manta esburacada, aquecendo as mãos com o bafo.
O Melro mandou deitar as filhas, e foi à loja contar à mulher, lívida e trémula, como o Zeferino morreu sem ele pôr para isso prego nem estopa. Ela pôs as mãos com transporte e disse que fora milagre do Bom Jesus; que estivera três horas de joelhos diante da sua divina imagem. O marido objectava contra o milagre – que o compadre não lhe dava a casa, visto que não fora ele quem vindimara o Zeferino; e a mulher – que levasse o demo a casa; que eles tinham vivido até então na choupana alugada e que o Bom Jesus os havia de ajudar.
Ao outro dia, o Joaquim Melro convenceu-se do milagre, quando o compadre, depois de lhe ouvir contar a morte do pedreiro, lhe disse:
– Enfim, você ganha a casa, compadre, porque matava Zeferino, se os outros não matam ele, hem?”
José Eduardo Taveira