Crise – Doenças Mentais e Estado Social

Falando com amigos que passam uma parte razoável da vida a circular pelas estradas portuguesas, todos me dizem o mesmo. Circular pelas nossas estradas é, a cada dia que passa, cada vez mais perigoso. Porquê? Porque a violência dos condutores nacionais sobe na mesma proporção do aumento do custo de vida. É assustador senhor jornalista. Por muito bom economista que o senhor ministro das finanças seja, por muito louvável que as intenções do Estado sejam, ao ultrapassarem as pretensões da Troika, a verdade nua e crua é que estamos mais a afundar o país do que a ergue-lo. Estamos condicionados ao factor humano, estamos a lidar com pessoas, e julgo que um país de doentes mentais tem menos possibilidades de pagar dividas quando comparado com os outros países.
Portugal é o país da Europa com mais doenças mentais. Os números simplesmente assustam. Casos graves em Portugal que não têm qualquer tipo de tratamento, são 67%; em cada cinco pessoas uma sofre de perturbações, corresponde a 23%; 43% já sofreu de perturbações mentais, e quando comparado com os restantes países, para o nosso são 6% e para os outros, uns míseros 1%, no global da população. A mim isto simplesmente assusta-me, e penso que a todas as pessoas consideradas normais também. Só não vê quem é cego, ou quem se norteia apenas por partidarismos políticos injustificáveis. E sobremaneira nos preocupamos quando sabemos que as pessoas foram deliberadamente induzidas a endividarem-se. No dia em que os políticos dos dois partidos da área da governação descoraram por completo os meios de produção começou a submissão económica aos interesses do exterior; e hoje, quanto mais de cócoras nos pomos, mais difícil se torna levantarmos as cabeças com a dignidade que um povo com novecentos anos de história merece.
Falemos então do tão apregoado estado Social. Mas falemos com factos concretos. Parece-me que, em assuntos de tanta importância devemos esquecer as retóricas políticas, (mais parecidas com representações teatrais,) tão do agrado das populações “basbaque” que se prendem aos televisores horas a fio a ver as actuações da nossa Assembleia. Pouquíssimas vezes, durante a minha vida profissional, dispôs de tempo para mim ou para os meus “achaques.” Se assim o posso dizer, passei a vida, ou uma parte significativa dela, a correr para satisfazer as minhas obrigações profissionais; quando me disseram que tinha urgência em submeter-me a uma operação de “barriga aberta” perante a inevitabilidade da cirurgia, e na meia hora que durou a consulta, marquei com o médico a data e a hora da intervenção. Depois, para oficializar a baixa através do posto da caixa da minha área de residência, foram precisos três dias! Porquê? É simplíssimo de responder. Porque o dito e apregoado Estado Social não foi feito para satisfazer as necessidades de saúde, ou quaisquer outras, da população que trabalha. Destina-se sim às pessoas que podem perder algum do tão precioso tempo, não digo a preguiçar, mas sim a estar simplesmente doente…
O trágico é pensarmos porque, neste país, as coisas se passam desta maneira e não de outra, e para isso, penso que, ao longo dos séculos, os portugueses ricos aliviaram sempre os seus males de consciência praticando o conceito de esmolas, (quem dá aos pobres empresta a Deus) criando misericórdias, rodas para os enjeitados, (muitos deles filhos de nobres e de serviçais), e aconchegando a consciência dando corpo à “cunhazinha” para satisfazer as necessidades dos ditos “afilhados”!
Se foi este o país que fomos capazes de construir, não é este o país que pode, (por imperativos externos e de consciência de homens e mulheres que se querem modernos, operantes e úteis à sociedade,) continuar a existir. É assim que os ministros das finanças assim tão, (como hei-de dizer?), ingénuos, ao ponto de ignorar leis e princípios de ética, tradições e culturas que nasceram do esforço das gerações na sua justa luta pela melhoria das condições de vida, entrar para a esfera onde os Homens de Bem, os mais inteligentes e aptos, estendem as mãos aos seus semelhantes e os puxam para os patamares superiores da vida.
Atrevo-me a pensar que a necessidade última do Governo é mais voltar aos mercados, para continuar com a vidinha de sempre, do que tornar este país independente e próspero!

Sobre jsola02

quando me disseram que tinha de escrever uma apresentação, logo falar sobre mim, a coisa ficou feia. Falar sobre mim para dizer o quê? Que gosto de escrever, (dá-me paz, fico mais gente), que escrever é como respirar, comer ou dormir, é sinal que estou vivo e desperto? Mas a quem pode interessar saber coisas sobre um ilustre desconhecido? Qual é o interesse de conhecer uma vida igual a tantas outras, de um individuo, filho de uma família paupérrima, que nasceu para escrever, que aos catorze anos procurou um editor, que depois, muito mais tarde, publicou contos nos jornais diários da capital, entrevistas e pequenos artigos, que passou por todo o tipo de trabalho, como operário, como chefe de departamento técnico, e que, reformado, para continuar útil e activo, aos setenta anos recomeçou a escrever como se exercesse uma nova profissão. Parece-me que é pouco relevante. Mas, como escrever é exercer uma profissão tão útil como qualquer outra, desde que seja exercida com a honestidade de se dizer aquilo que se pensa, (penso que não há trabalhos superiores ou trabalhos inferiores, todos contribuem para o progresso e o bem estar do mundo), vou aceitar o desafio de me expor. Ficarei feliz se conseguir contribuir para que as pessoas pensem mais; ficarei feliz se me disserem o que pensam do que escrevo… José Solá
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